quinta-feira, 21 de março de 2013

Aristóteles e o problema da educação

*Sérgio Henrique de Souza

Antes de mais nada devemos entender que este texto é apenes uma pequena contribuição aos diversos conceitos que já foram tratados em aula, de certo modo aqui está um pequeno resumo de algumas das ideias de Aristóteles sobre o problema da educação ou conhecimento adquirido. e como plano de fundo começaremos por esta máxima de Aristóteles.

" Onde quer que se descuide da Educação, O Estado sofre um golpe nocivo".

A palavra educação, em sua definição significa ação de "desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais", nos mostra a seriedade que devemos empregar à aquilo que buscamos ser, ou seja, um conceito forte e pleno de significados.

O filósofo Aristóteles em suas obras nos lembra sobre a passagem do Ato para Potência,  como sendo o ato  o presente e a potencia é aquilo que temos por meta, ou seja, na vivência escolar, nossos jovens adentram as escolas desconhecendo o sentido da educação, que é o de transforar a potência, o sonho de cada um deles, em ato, que se concretize de verdade, só assim para atualizar sonhos em objetivos e objetivos em sonhos.

Ao tratarmos das "faculdades psíquicas, intelectuais presentes em cada ser, realizamos aquilo que, para o pensador é, educar para a prática da VIRTUDE, exercitar a vivência do BEM, ou seja, o objetivo da educação, podemos dizer que é a geração de prazer ou prazeres, no entanto, testemunhamos em nossas escolas o contrário, a proliferação do desconforto, do insuportável e do descontentamento.

Cabe aqui então uma pergunta para nosso própria reflexão, o que fazer diante desse fato?

A virtude em Aristóteles nasce no momento em que se faz  a"experiência", em outras palavras, é uma prática, uma empiria, que não é algo que vem à realidade de modo inato ( nasce conosco), portanto, esse exercício virtuoso é como um hábito (repetição), a cada dia deve ser aperfeiçoado, e o lugar que devemos experimentar essa virtude é a própria escola.

O significado da palavra escola nos remete ao termo grego  (σχολή) é lazer (scholé),ou seja lugar que se vivencia o prazer, que vem pelos novos conhecimentos, pelos amigos que fazemos, pelas namoradinhas e namoradinhos que se tem, pelos esforços que se concretizam e tudo mais, no entanto, tal conceito foi banido das escolas, e a virtude se afasta deste ambiente, uma vez que não há exercício, treino desse lazer - prazer, e o ensinar e o aprender viraram apenas uma seção de tortura, tanto a professores quanto a alunos.

Para ele essa escola é, em sua origem, a própria família, pois é ela que transmite aos seus o princípio de um bom se portar, uma prática condizente com o que se faz, por exemplo, os valores que carregamos vem da família. portanto, a família é o inicio da organização das cidades, e cabe ao governo zelar pelas famílias.

"Eduquem as crianças e não será preciso punir os adultos". (Pitágoras)

O sentido da palavra cuidar é uma ação de aplicar a atenção, assistir, zelar, ou seja, é a prática da virtude que tanto falamos e que para o pensador, é o POLITIKÓS - pensar o bem a todos, algo que o Estado e todos os cidadãos são responsáveis, sobretudos o Estado. Essa virtude culmina em algo chamado ética, ou seja, devemos ter um conduta eticamente ´possível, justa e sobretudo sóbria para desempenhar com sinceridade nosso ser político.

"toda a arte e todo indagação, assim como toda ação e todo propósito, visam a algum bem (...) e que (...) o bem é aquilo a que todas as coisas visam".

O resultado disto, a grosso modo é, dizer que o homem, em sua finalidade, tendo a justa e consciente medida "ética" para gerar um sentimento de felicidade, ou seja, ao exercitarmos o aprender a ser felizes, necessariamente necessitamos de uma pessoa, e a isto damos o nome de professor.

Como diz o ditado, a andorinha não faz verão sozinha, o professor necessita do aluno e o aluno de seu professor, como o cavaleiro precisa do cavalo para ser, assim se dá a prática da virtude, alguém que ensine a fazer a experiência, sendo assim, fazer educação é uma prática virtuosa que deve ser colocada de maneira justa e igual a todos.

Ao direcionarmos o olhar para o desafio da escola, da sala de aula, da turma, de seus problemas, que por muitas vezes nos desanima, nos dá a leve impressão de que a escola é o lugar da tortura, do massacre, da prisão e da reclusão, é só andar por aí e constatar que nossas escolas viraram depósitos de bagulhos, muros altos, grade por todo lado e vigilância até em sala de aulas com direito a áudio, e isso é bom e ruim ao mesmo tempo, e sabemos que escola não é isso e nem nasceu para ser isso, apenas nos conformamos com o que esta acontecendo.

"De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo". (Adélia Prado)

E é interessante que, nos acostumamos a olhar o que é habitual e usual, mas quando de repente sentimos aquele "espanto" que gera m nós uma inquietação, nos tornamos de certo modo, estáticos, perplexos e ao mesmo tempo em movimento, como num pulsar de vida, como faz o coração, pois, aí está o desafio, ver além da pedra, ver além de um simples aluno e perceber a potencialidade que ele pode ser um dia, ato e potência, mesmo que, o aluno seja daqueles mais levados do mundo, devemos aproveitar o "pior" para o melhor.

Portanto, o professor deve ser um visionário e levar seus alunos a contemplarem e a praticarem o exercício essencial da vida que é a busca constante pelo conhecimento que nos traz o prazer, o deleite, desfrutar o que se plantou, é ter atitude, é ter uma significância para quem foi o protagonista da educação, como nos lembra a canção de Chico Buarque.

"A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...".

Esse "ter voz ativa" incomoda, é a pedra no sapato e na educação o desafio é justamente este, ser como a roda viva, que supera o desafio, que busca, que não se conforma, essa roda vida é o próprio homem, que se surpreende com o que se pode ser.

"Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu". (Fernando Pessoa - Álvaro de Campos)

Por muitas vezes nos esquecemos do fato de necessitar de um professor como um "facilitador" para gerar o prazer, prazer este que é a busca pelo conhecimento, aquilo que a filosofia em sua essência realiza, busca a verdade, e podemos comprar este prazer, essa felicidade que é o conhecimento ao fato de alguém que não andava passar a andar e alguém que não enxergava passar a ver o mundo e as coisas.

Nesse Sentido, o professor é quem vai levar ao aluno o deslumbramento por admirar o mundo, a vida e os homens. Admirar é contemplar o que foi feito como foi feito, ou seja, a admiração imprime em nós a gratidão, o prazer e a felicidade.

Educação podemos dizer que é um grande "mirandum" aquilo que se admira, que se busca e ainda, graças a poucos se prática e vivencia de maneira muito séria e sóbria, ou seja, o caminho para resolver os problemas da sociedade é melhorar a educação, é respeitar e valorizar professores e alunos, é passar a saborear a "felicidade".

"Menina , amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens". (Tom Zé)

* Sérgio Henrique de Souza é Mestrando do Programa de Educação da Universidade Metodista de São Paulo, professor de Filosofia da Educação da Faculdade Santa Izildinha - Uniesp na cidade de São Paulo e Professor de filosofia, efetivo da Secretaria do Estado da Educação de São Paulo
Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2005.
http://letras.mus.br/chico-buarque/45167/
http://letras.mus.br/tom-ze/164141/